O nosso mundo frágil

14 janeiro 2022
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Estabilidade, bem-estar, tranquilidade – era assim a minha vida até um certo ponto. Conforto e comodidade, parecia que ia ser sempre assim, não havia outra forma de o contornar. De repente, houve um colapso económico, a moeda local desvalorizou-se a uma velocidade vertiginosa, proporcionalmente ao crescimento do dólar. Surgiu o medo... O medo para o dia de amanhã... Os preços dos alimentos, da água, dos combustíveis, dos medicamentos começaram a subir em dimensões cósmicas.

A escassez. Muitas lojas fecharam, marcas foram-se embora, outras faliram. É estranho e fora do comum pensar onde comprar roupa em caso de necessidade.

Medicamentos. Desapareceram. Quantas pessoas com doenças crónicas andaram de farmácia em farmácia por todo o país à procura dos seus medicamentos! Alguns conseguiram comprar medicamentos para vários meses antes de estes desaparecerem completamente das prateleiras, enquanto outros ficaram sem nada...

A alimentação. Muitas das coisas a que estávamos habituados desapareceram. Está bem, eu não sou exigente com a comida, mas mesmo assim... Começaram a aparecer produtos de qualidade inferior com preços muito elevados, não habituais para nós. Manteiga artificial, queijo, carne... Desta forma, pelo que sei, os produtores tentaram sobreviver nas duras condições do elevado custo de tudo.

A água potável vinha das nascentes, que são muitas nas zonas montanhosas. Mas, no final deste Verão, as nascentes começaram a secar. Não tínhamos outra alternativa senão comprar água, que também se tornou muito cara devido à escassez e ao aumento do preço dos combustíveis. Apercebi-me deste paradoxo. Há uma nascente na montanha, numa aldeia distante, com água pura de excelente qualidade. Nunca secou, nem no Inverno nem no Verão. A torneira ficou avariada, a água estava constantemente a verter para o chão. Por outras palavras, a população dos arredores sofrem sem água, eles pagam um preço muito alto, mas aqui ela escorre pela terra, e ninguém se importa... E a logística pode facilmente resolver estes problemas: pensar no abastecimento de todas as regiões e estabelecer esse abastecimento...

O combustível. De repente, o combustível tornou-se escasso. As bombas de gasolina reduziram o seu horário de funcionamento para quatro horas. Algumas deixaram de abrir. Havia filas de automóveis de vários quilómetros para abastecer. É claro que ninguém levava o depósito cheio. Imaginem, ficar numa fila durante algumas horas com um calor de 40 graus, e abastecer o carro para 2 a 3 dias, é uma sorte. Outras pessoas não tiveram sorte nenhuma, porque não conseguiram abastecer. Começaram a ocorrer acidentes, lutas e até tiroteios por causa da fila de espera. Ocorreram muitas lutas mortais.

Eu tive sorte. Como médico, tinha direito a um depósito cheio por uma semana. Todas as segundas-feiras, acordava aterrorizado: será que consigo comprar gasolina hoje, porque são 17 quilómetros até ao trabalho? Não há transportes públicos na nossa região. E o trabalho é a única fonte de sobrevivência para a minha família.

OS ACIDENTES DE TRÂNSITO. As filas de espera para abastecer provocaram uma série de acidentes terríveis. Os carros não tinham tempo para abrandar quando uma enorme fila de carros aparecia "de repente" à sua frente na auto-estrada, junto às bombas de abastecimento. Um incidente ficou-me para sempre gravado na memória. Uma mulher e os seus quatro filhos estavam no caminho para a capital onde iam buscar o marido ao aeroporto após a sua viagem. Não chegaram a chegar, tendo sofrido um grave acidente não muito longe de uma bomba de abastecimento. Ninguém sobreviveu.

A desvalorização dos bens materiais

Imaginem um homem adulto, cheio de força, que está na rua e grita, indefeso: "Ajudem-me! Preciso de medicamentos para o meu bebé, tenho dinheiro, muito dinheiro, estou disposto a pagar qualquer valor!" Mas não há medicamentos. De repente, até o dinheiro deixou de resolver os problemas. Sempre pensámos que o investimento mais estável e melhor era o imobiliário. E, de repente, verificou-se que nem os terrenos nem os imóveis para habitação podiam ser vendidos por metade do preço! Quem é que vai investir em imobiliário numa região tão instável?

A eletricidade. A eletricidade tornou-se escassa. Apercebemo-nos de que todo o país, por mais pequeno que fosse, queimava gasóleo comprado para fornecer a eletricidade. A sua aquisição tornou-se dispendiosa, a eletricidade não estava disponível mais de 2 horas por dia e, depois, era totalmente interrompida. O país ficou mergulhado na escuridão.

Os meios de comunicação social mundiais decidiram transmitir o acontecimento e a informação sobre a falta de eletricidade no país inteiro, a situação era transmitida pelos ecrãs de televisão. Amigos, conhecidos e familiares começaram a telefonar-me, perguntando como estávamos, se eu precisava de ajuda. Obrigado a todos, que me apoiaram neste momento difícil. Agora sinto-me melhor, não estamos sozinhos.

Naquele momento, fiquei impressionado com estas descobertas: quão distantes estamos (a humanidade) e quão pouco sabemos sobre o que está a acontecer num país vizinho; estamos habituados a confiar e a levar a sério apenas a informação transmitida pelos meios de comunicação oficiais. Afinal, já contei a muitos dos meus familiares o que está a acontecer no nosso país, mas a única verdadeira emoção que sentiram foi ver as notícias na televisão. Talvez isso seja normal, mas os meios de comunicação social dão tão pouca informação verdadeira e não conseguem apresentar o panorama geral do que se passa no mundo. Assim, é-nos dada uma ilusão peculiar de bem-estar geral.

Os cidadãos foram deixados sozinhos com os seus problemas. Havia esperança de que um novo governo estivesse prestes a ser eleito e que todos os nossos problemas desaparecessem, mas a situação não se alterou.

Imaginem hospitais sem eletricidade, pessoas a morrer sem máquinas de suporte de vida, crianças pequenas. A morte de um bebé de um mês num hospital, devido à falta de eletricidade, provocou o caos, confrontos e tiroteios. No entanto, as autoridades ignoraram também esta situação.

Ficámos surpreendidos ao descobrir que tudo, absolutamente tudo, está ligado ao dólar. Até o preço do leite de uma vaca na aldeia mais distante da montanha depende do dólar. E há sempre uma explicação: ou as forragens são trazidas de outros países, ou o combustível, ou outra coisa qualquer.

O nosso mundo estável e próspero desmoronou como um castelo de cartas.

Podem estar a pensar, que raio de blockbuster horrível é este? Tudo isto estava realmente a acontecer no Verão de 2021 no Líbano. Ainda está a acontecer. Já ouvi a expressão: "Encontraste um lugar para onde ir!

Provavelmente nos outros países é mais calmo, mas será que é estável e com segurança? – Não. Porque vivemos todos numa sociedade consumista que não dá nenhum valor à vida humana. Colocámos o dinheiro no trono. Quem for mais rico tem razão. Entregamos toda a responsabilidade pelas nossas vidas a pessoas eleitas, criando um poder ilimitado à elite. Tenho muitos amigos que vivem pelo mundo fora. E todos se queixam da inflação constante, da deterioração das condições de vida e da irresponsabilidade e falta de respeito das autoridades. É evidente que não é este o mundo que queremos deixar aos nossos filhos!

O que está a acontecer no nosso país eu diria que é uma guerra económica, com milhões de feridos, mortos, devastados. Uma guerra sem que tenha sido disparado um único tiro. Não vale a pena procurar os culpados. Não sou cientista político. A maior parte da população, como eu, não está muito bem informada sobre as causas do que está a acontecer. As mentiras que passam pelos ecrãs de televisão são inesgotáveis. Todos os canais pertencem a alguma força política e andam ocupados a culpar os concorrentes. E as pessoas, no limite da sobrevivência, estão a tentar encontrar uma saída. Muitos começaram a instalar painéis solares. A um custo exorbitante, porque a população já não tem dinheiro! Ainda a menos de dois meses, foi lançado um novo imposto sobre a instalação de painéis solares. Parece uma brincadeira de mau gosto, mas é verdade.

Há um ditado que se tornou popular: "Tudo aumentou o seu preço, menos as nossas vidas!"

Esta situação foi possível, no meu entender, pelas seguintes razões:

  • O formato consumista da sociedade.

  • Divisão da população em diferentes culturas religiosas e políticas.

  • A entrega total da responsabilidade aos que estão no poder.

  • O poder absoluto que deu origem aos "dragões".

Gostaria de descrever em poucas palavras esta experiência, para que o maior número possível de pessoas possa tomar conhecimento dela, para que todos compreendam que o nosso pequeno mundo está gravemente doente e que, em caso de catástrofes e cataclismos, nós, pessoas simples, pagaremos tudo com a nossa carteira, com a nossa saúde e até com a nossa vida. A sociedade consumista não prevê a responsabilidade, é construída sobre a ganância e a ambição egoísta. Estamos a ser manipulados como peças num tabuleiro de xadrez. Afinal, para alguém é apenas um jogo, mas há alguém que lucra muito bem com a destruição da população! Isto é esclavagismo.

É evidente que temos de mudar o próprio formato das relações na nossa sociedade, de um formato consumista para um formato criativo. O formato consumista, como um vírus, invadiu todo o planeta. As suas características mais reconhecíveis são: a desvalorização da vida humana, a falta de confiança no futuro, a inflação constante, o estímulo constante ao consumo, a enorme superprodução com um aumento constante do número de pessoas que vivem abaixo do limite da pobreza, a globalização com uma concentração gradual do capital nas mãos de poucos. Com isso estamos a destruir o ecossistema do nosso planeta em nome do lucro.

Há vários anos que estou a participar no projeto internacional a Sociedade Criativa e sei que temos uma verdadeira solução! Todos podemos viver de forma diferente – num mundo em que haja estabilidade e prosperidade, em que todas as pessoas sejam importantes e de grande valor, num mundo em que o progresso avance a passos largos e em que todas as descobertas sejam para benefício da sociedade e de cada indivíduo. Não precisa de protestos e revoluções, mas sim da vontade da maioria. Agora, para mim, isto passou da teoria à prática. Não se trata de alguém, algures por aí, que se torna um refugiado climático ou que morre à fome, trata-se da população do meu país, um país inteiro em perigo mortal e num vácuo de indiferença. No momento em que eu escrevo este artigo, chegam notícias de um incumprimento económico em dois países vizinhos, suficientemente grandes e importantes na cena mundial. Não há dúvida de que todos nós queremos viver bem e ter segurança no futuro. É por isso que é muito importante agora unirmos as nossas forças para construir uma Sociedade Criativa.

A Sociedade Criativa  é um novo formato de vida, é o oposto de uma sociedade consumista, que tem como objetivo servir os seres humanos. Atualmente, muitas pessoas em todo o mundo apoiam a Sociedade Criativa. Qualquer pessoa que compreenda o absurdo e o impasse em que nos metemos, que veja a dimensão global dos nossos problemas, que já esteja consciente do ciclo de catástrofe climática em que o nosso planeta entrou, sabe - não podemos sobreviver sem a Sociedade Criativa. Na Sociedade Criativa o valor mais alto é a Vida Humana e a partir daí tudo serve para o benefício da sociedade e do ser humano.

No dia 4 de Dezembro de 2021, com milhões de pessoas, acompanhei o fórum internacional online "CRISE GLOBAL. HORA DA VERDADE", que foi transmitido simultaneamente em 100 línguas em todo o mundo. Cientistas, políticos, líderes religiosos, analistas, todos disseram em uma só voz – precisamos da Sociedade Criativa, para que a civilização não se destrua ou se torne pó sob o ataque do apocalipse climático. Porquê uma sociedade criativa? Atualmente, a ciência e as mais novas tecnologias trabalham apenas para interesses privados. Mas é o formato da Sociedade Criativa que nos permitirá unir os nossos esforços, todo o nosso potencial técnico e científico para resolver problemas globais que estão para além dos meios de um único país. Estamos a falar dos problemas relacionados com a fome, a água potável, a inflação constante, a ecologia arruinada, os problemas de saúde, o tratamento de doenças "incuráveis" e crónicas e, mais importante ainda, o problema da sobrevivência da humanidade durante as crescentes catástrofes climáticas. Numa sociedade consumista, nem mesmo as pessoas que detêm o poder são imunes. Ficam doentes como todos os outros, e morrem de doenças "incuráveis". Se não tomarmos medidas concretas desde já, a água, o ar e os alimentos poderão em breve tornar-se os recursos mais preciosos. Quem precisará do seu dinheiro nessa altura?

Uma sociedade criativa é a única opção para sobreviver e criar um mundo digno para a humanidade, para que finalmente pudéssemos chamar-nos uma civilização por direito.

Todos reconhecem o facto de que estes problemas estão a destruir o nosso mundo, até mesmo a ONU. Os problemas são reconhecidos, as soluções são anunciadas, mas de facto nada é feito . Além disso, está a tornar-se uma nova forma de ganhar dinheiro. Como, por exemplo, a compra e venda de quotas industriais de CO2. Aliás, a verdadeira causa das dramáticas alterações climáticas não é o CO2, mas sim a ciclicidade dos processos cósmicos que afetam o nosso planeta. Mas isto não é divulgado, porque não é possível ganhar dinheiro com isso.

Durante a conferência, o que mais me impressionou foi o facto que pessoas com cargos muito elevados disseram sem rodeios – é necessário reunir todas as pessoas, é necessário que todos tomem medidas, esta é a única forma de vencer o sistema do formato consumista.

Muitos políticos, ao conhecerem o projeto da Sociedade Criativa, admitiram que é uma ótima saída da crise global, mas sem a exigência eleitoral da maioria das pessoas, não conseguem mudar nada.

Vejo a nossa sociedade consumista como um enorme volante de inércia, a girar a grandes velocidades. Cada um de nós é uma pequena engrenagem. É possível que um par de políticos pare o volante e o faça girar no sentido contrário? É impossível. É preciso um esforço da maioria das pessoas. É altura de deixar de esperar que alguém venha e faça tudo por nós. Temos de assumir a responsabilidade e agir por nós próprios. Todos nós, unidos num esforço comum, podemos construir a Sociedade Criativa em que o maior valor será a Vida Humana (e não o dinheiro, como acontece hoje).

Realmente nós podemos fazer muito! A única coisa que falta para o melhor resultado é você, meu amigo!

Membro do Projeto "Sociedade Criativa", Julia

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